quarta-feira, 31 de outubro de 2012

PORTUGAL: A CRISE DO SÉC. XIV (alguns aspectos: 1)

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Relembremos,então, algumas das características que a crise geral do séc. XIV assumiu em Portugal. Começa por observar, atentamente, a seguinte cronologia (dissemos que o séc. XIV durou 150 anos, não foi?) e, depois, responde ao pedido:


1315 - Chuvas torrenciais por quase toda a Europa. Subida dos preços dos cereais

1331 - 33 - Maus anos agrícolas em Portugal e Castela

1348 - Peste negra

1355 - 56 - Secas; más colheitas e fomes. Em 1356 assinalam-se, ainda, vários terramotos

1361 - 63 - Peste

1365 - Peste

1364 - 66 - Fome, escassez cerealífera. Falta de mão-de-obra

1369 - 71 - Primeira guerra fernandina com Castela

1372 - Grandes inundações; sobem os preços; a moeda desvaloriza-se

1372 - 73 - Segunda guerra fernandina com Castela

1374 - Mau ano agrícola. Peste

1375 - Seca. Acentua-se a crise económica. Lei das Sesmarias

1381 - 82 - Terceira guerra fernandina com Castela

1383 - 85 - Peste. Guerras (de independência) com Castela; lutas internas devido às diferentes opções tomadas pelos alcaides dos castelos e pela nobreza.

1384 - 87 - Falta de cereais

1391 - 92 - Colheitas fracas e escassez cerealífera

1412 - 14 - Crise geral europeia. Más colheitas em Portugal e dificuldades de abastecimento

1414 - 16 - Peste

1418 - Inverno muito rigoroso que provoca perda total das colheitas

1422 -27 - Período de más colheitas

1429 - Peste

1437 - 41 - Crise agrícola; subida dos preços dos cereais. Fome e peste

1448 - 52 - peste

1452 - 55 - Maus anos de produção cerealífera. Subida do preço do pão


PROPOSTA DE INTERPRETAÇÃO:

1 - Faz o levantamento

a) de todos maus anos agrícolas (não te esqueças que, por exemplo, chuvas torrenciais e inundações implicam que o ano agrícola seja mau).

b) de todos os anos em que houve peste.

c) de todos os anos em que houve guerra


2 - Tendo em conta os dados que recolheste, que podes concluir acerca

a) da evolução demográfica ao longo do séc. XIV

b) da situação económica durante esse século

domingo, 8 de janeiro de 2012

A CARAVELA



Vimos como Gil Eanes dobrou o Bojador numa barca, navio de velas redondas e adequado à navegação oceânica, mas que não permitia bolinar [1]. Para lá do Bojador exigia-se um barco mais manobrável e robusto, que pudesse armar remos, navegar com ventos fracos ou fortes e que fosse rápido para fugir do perigo. Construímos a CARAVELA que se tornou no navio símbolo dos descobrimentos, pequena embarcação de três mastros, equipada com a revolucionária vela latina (triangular) decorada com a cruz de Cristo - símbolo da Ordem de Cristo, a ordem religiosa portuguesa de que o Infante era Mestre.


A VIDA A BORDO DAS CARAVELAS

Não damos real valor à coragem e ao esforço dos nossos descobridores se não perdermos algum tempo a aprender como era a vida a bordo.

Ao embarcar, os navios precisavam de ir abastecidos para um tempo ilimitado, por isso, animais vivos, acomodados no convés (ao lado do batel, remos, vergas, etc), barris de água e de vinho, pão, biscoito, carne salgada, peixe seco, mel, fruta seca, etc., mas também madeira e carvão ocupavam a maior parte do espaço disponível. Normalmente comiam-se os alimentos secos pois não era muito frequente fazer tempo que permitisse uma refeição quente. A alimentação era, pois, muito pobre, sobretudo em alimentos frescos.

Andava-se descalço e dormia-se onde se pudesse, à excepção do capitão que tinha um pequeno compartimento privado no castelo que se erguia à popa. O banho, como se calcula, era impensável, porque a água doce era um bem escasso e precioso.

Já que falamos em água, convém lembrar que se inquinava rapidamente, sobretudo quando submetida aos efeitos dos climas tropicais. Com alimentação tão pobre e água escassa, as doenças surgiam facilmente, particularmente o terrível escorbuto.

Era necessário fazer algumas paragens em cada viagem e os motivos eram todos importantes: abastecer de água e de alimentos frescos (diz-se: fazer aguada)[2]; consertar rombos que houvesse; limpar o casco do navio onde os moluscos se agarravam e, mais do que dificultar a viagem, poderiam corroer a madeira pondo em perigo a vida de toda a tripulação, etc.

Como a costa era desconhecida, navegava-se de dia. O convés, por ser de madeira, tinha que ser molhado diariamente. Naquelas viagens, a doença, a morte e o perigo eram os companheiros de todos os dias. Saía-se sem saber quando nem se se regressaria. O mar é a sepultura de muitos navegadores portugueses.


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[1] Bolinar, ou navegar à bolina significa a capacidade de navegar enfrentando ventos desfavoráveis.
[2] Imaginem-se as paragens feitas antes de conhecermos as línguas que falavam os povos encontrados: como comunicar? Como dizer o que se quer e se precisa? Como dizer quem somos?